(O texto, pela sua antiguidade, poderá apresentar ortografia deficiente)
D. Pedro I, esse, como que nasceu da própria natureza brasileira; refletiu numa seria desordem de vida A identificação do seu temperamento com o temperamento do povo que o rodeava e que o torna tão vivo diante dos nossos olhos.
Quando lemos as suas cartas o pai, as suas proclamações, os seus artigos no "Fluminense" ou os seus bilhetes de amor, parece que estamos a vê-lo, a ouvi-lo, não sei que do seu sangue palpita no nosso sangue.
Das quatro coroas de D, Pedro I, houve duas que ele não chegou a levar á cabeça, porque as recusou: a da Grécia, em 1822 (ainda príncipe regente e defensor perpetuo do Brasil) e a da Espanha, por três vezes, em. 1826, em 1829 e em 1830. O apreciar os lances dessa nobre vida ao serviço das outras duas coroas, a do Brasil e a de Portugal, mostra-nos aspectos pouco conhecidos do monarca. Sua fidelidade de que foi símbolo e tornou-o indiferente as simples aventuras da ambição. Nem a Grécia, com todo o brilho do seu passado imortal, nem a Espanha, com o luxo da sua riquíssima tradição peninsular e ultramarina, puderam fazê-lo desviar-se da linha instintiva: viver para 0 Brasil, morrer por Portugal.
Doe nossos dois imperadores, D. Pedro I era ate bem. pouco o que menos empatia« e menos encontrava no julgamento da História. Felizmente, já hoje se retome inteira homenagem ao seu heroísmo e á sua bondade, ao seu génio cavalheiresco de consciente arquiteto do Império, de pai das liberdades constitucionais e de defensor de tronos legítimos.
A vida brasileira, que ainda é de luta, de construção política, de construção nacional, encontra cada vez mais no dinamismo de D. Pedro I um alto motivo de inspiração, Alem do que, nenhuma outra figura histórica poderá refletir tão bem a profunda afinidade, direi mesmo cumplicidade, de destino e de alma, que une as duas nações lusitanas; porque, português, D. Pedro I ergueu o Império do Brasil; brasileiro, foi rei de Portugal.
EVOCAÇÃO
D . Pedro!
Tiveste duas pátrias e foste por elas renegado .
o Brasil antigo te repeliu porque eras português ,
E Portugal não te quis receber porque eras brasileiro ,
Hoje, porem, pelos mesmos motivos, ambas celebram a tua memória.
Tu, que soubestes fundir na tua alma as duas nacionalidades,
deves ser o símbolo da união luso-brasileira.
Provaste ao mundo que se pode ser brasileiro sem
deixar nunca de ser português.
D. Pedro e seu Pai Dom João VI
Mousinho da Silveira, prevendo malogro da tentativa de acordo, declarou textualmente a D.João VI antes da partida de Rio Maior para 0 Brasil: "mesmo quando o Senhor D. Pedro queira, ele não pode, no estado atual do Brasil, tratar com V. Majestade senão sobre a base da independência.
Em 20 de outubro de 1823 mais de um.ano depois da independência, Palmela comunicava a Vila Real, em oficio reservado, que D, João não enviaria força armada para submeter o Brasil.Pelo contrario, só mandaria para lá tropas portuguesas para auxiliar o Príncipe Real a comprimir alguns levantamentos parciais se o Príncipe o requeresse.
Só em 1825, depois de prolongadas negociações e que foi assinado 0 tratado de reconhecimento do império. Falando, mais tarde, na Câmara dos Pares, o duque de Palrmela testemunhou que D. João não se opusera ao reconhecimento:"a maior dificuldade estava na disposição do espírito publico em Portugal"
Mesmo depois do 7 de setembro, manteve D. Pedro um agente mais ou menos oficioso junto a D. João VI.
Logo após o reconhecimento da independência, foi esse agente elevado á categoria de cônsul-geral do império em Portugal. Trata-se do Sr. Clemente Mendes ' e Almeida.
Dois ministros, encarando a independência como uma consequência necessária dos últimos acontecimentos políticos nos dois países, estavam de acordo .quanto a necessidade de pronto reconhecimento, e neste sentido tinham largas conferencias com D. João VI cujos sentimentos eram favoráveis á independência, porem “querendo que tanto se considerasse obra sua por isso sustentava existir ela desde que o Brasil tinha sido elevado a categoria de Reino, e seus portos abertos ao comercio estrangeiro; atos que eram seus".
"Desde que o Senhor D. João VI foi sabedor da tendência, que aparecia no Brasil para a independência e dos esforços, que por ela se fazia, não hesitou em apresentar as pessoas, com quem mais confiadamente tratava, os seus sentimentos a tal respeito, manifestando sempre o maior desejo, de que ela se firmasse por um ato seu; e se aquele monarca tivesse tido a resolução para levar a efeito os sentimentos e desejos, que sobre tão importante assunto mantinha, a independência teria sido reconhecida em 1823, quando os Comissários Régios foram mandados ao Rio de Janeiro" .
Concluindo, D. João "escolheu sempre um dia memorável á Família Imperial e á Nação Brasileira para tomar as resoluções mais assinaladas acerca da independência, Foi a 22 de janeiro de 1825, aniversario natalício de S.M. a Imperatriz, que S. M. Fidelíssima resolveu definitivamente reconhecer a independência nomeando então um Ministério composto de pessoas, que partilhavam essa política : foi outrossim a 15 de novembro do mesmo ano, dia em que se solenizava o Santo Nome da mesma Augusta Senhora, que o Monarca português fez publicar o mais solenemente “o reconhecimento da independência política da Nação Brasileira".